*Ulisses Tasqueti
Com os recentes avanços tecnológicos, a inteligência artificial parece estar cada dia mais funcional e acessível. Há, inclusive, ferramentas gratuitas à disposição, com as mais diferentes aplicações. Análise de dados, previsão de probabilidades, atendimento a clientes e automação de atividades repetitivas parecem cada vez mais próximas da realidade de todas as empresas. Porém, ainda não é bem assim.
O desenvolvimento e a acessibilidade a diferentes sistemas de inteligência artificial criaram um ambiente de otimismo, talvez excessivo, com as aplicações que essas ferramentas podem trazer para as empresas. Mas é importante ter em mente que seu uso ainda é um desafio para as empresas pequenas e médias e deve ser sempre tomado como um auxiliar e não um substituto da atuação humana.
Não há como uma ferramenta de inteligência artificial substituir a capacidade do ser humano, em diversos aspectos. Estima-se que seriam necessários aproximadamente 100 supercomputadores para equiparar o poder de processamento de um único cérebro humano. Isso demandaria um consumo de energia de 1,78 Gigawatts de potência. Para que se possa fazer uma comparação, um cérebro humano consome aproximadamente 0,11 watts de energia. A diferença é inimaginável.
Além dessa questão prática, há aspectos fundamentais da interação humana que a inteligência artificial não busca e jamais tentará substituir. Empatia, compreensão, afeto, solidariedade e a capacidade de improvisar em face de situações inesperadas são algumas das qualidades humanas, presentes no dia a dia dos colaboradores e gestores, que ficam totalmente fora do alcance de qualquer algoritmo.
Um robô de atendimento não conseguirá convencer um cliente “difícil” a comprar seu produto. Da mesma forma, uma ferramenta de análise de probabilidades não tem em conta o bem-estar dos colaboradores e clientes quando aponta ao gestor a direção de uma decisão.
Ainda, as ferramentas mais sofisticadas de inteligência artificial não necessariamente se aplicam, de forma específica, à realidade de uma determinada empresa. Em geral, elas são pensadas para atingir uma variedade muito grande de potenciais clientes, de forma que a adaptação desses robôs para as particularidades de cada organização ainda toma tempo e é dispendiosa.
Também é importante ter clareza quanto ao fato de que ainda não existem leis que responsabilizem os desenvolvedores de sistemas por decisões tomadas pela inteligência artificial. Isso faz com que ferramentas em caráter experimental sejam disponibilizadas precocemente pelos criadores dos robôs, sem antecipar quais problemas jurídicos possam ser causados para os usuários.
A empresa não deve confiar às máquinas toda a sua interação com seus clientes (atendimento, venda, pós-venda, fidelização e atenção ao consumidor) e colaboradores. O gestor deve estar preparado para contrariar a direção apontada por um robô para a tomada de uma decisão.
Os documentos gerados eletronicamente devem ser submetidos ao departamento jurídico, para que este analise as implicações legais e potenciais riscos judiciais. Caso isso não aconteça, a empresa pode sofrer com problemas judiciais que não serão de responsabilidade dos desenvolvedores da inteligência artificial e que serão arcados exclusivamente por ela.
Sendo assim, embora haja variadas ferramentas de inteligência artificial à disposição das empresas, é preciso conter o entusiasmo. O uso de ferramentas tecnológicas é positivo e será cada vez mais presente nas empresas. Mas a revolução prometida ainda está longe de acontecer.
*Ulisses Tasqueti, advogado, sócio do escritório De Paula Machado